quarta-feira, 1 de julho de 2009

Comentários sobre o simulado FGV

Olá pessoal!

Hoje, comentarei as questões do simulado do tópico passado.

O nível das questões foi relativamente alto, já que eu coloquei algumas exceções de certos assuntos. Como já é de conhecimento de muitos, a regra geral dificilmente é cobrada em provas certo?!

Vamos lá!

1- Observe a seguinte frase: “Derrotou, naquela fatídica data, a França ao Brasil.” Indique a opção em que o termo sublinhado tenha a mesma função sintática deste:

Comentário: Essa questão pode ser dividida em duas partes:

1- identificação da função sintática de “ao Brasil”;

2- escolha da opção em que temos a mesma função do termo sublinhado.

É extremamente importante atentarmos à transitividade do verbo “derrotar”, pois por falta de atenção, alguém poderia considerar “ao Brasil” objeto indireto. Ora, o verbo é transitivo direto, de forma que seu complemento será um objeto direto.

Aí temos uma pergunta interessante:

Existe objeto direto preposicionado?

A resposta é SIM, em dois casos, mais especificamente:

1- para dar ênfase, o que não é o nosso caso;

2- quando tanto o sujeito quanto o objeto estão pospostos ao verbo transitivo direto;

Vejam só, se a frase fosse “Derrotou o Brasil a França / Derrotou a França o Brasil” haveria duas possibilidades de vencedor / perdedor. Dessa forma, usamos a preposição para diferenciarmos as funções sintáticas, e consequentemente eliminarmos a dupla interpretação.

Portanto, fica fácil perceber que eu me referi à final da Copa do Mundo de 1998, quando a França venceu o Brasil por 3 a 0. Percebam que dessa vez, como cada seleção foi colocada em sua devida posição, não houve problema de interpretação.

a) É importante que façamos simulados.

A oração sublinhada é subordinada substantiva subjetiva (função de sujeito).

b) Digo que a prova será difícil. V

A oração sublinhada é subordinada substantiva objetiva direta (função de objeto direto)

c) Entrego-lhe tudo que tenho.

d) Não necessitamos de ajuda alguma.

Temos nas letras C e D dois objetos indiretos. Quem tivesse feito aquele raciocínio equivocado teria duas opções para marcar!

e) Tenho necessidade de estudar.

Finalmente, aqui temos um complemento nominal, novamente uma preposição para tentar confundir os mais desatentos.

2- Marque a palavra que não é formada pelo mesmo processo de formação das demais.

Comentário: este é um tipo de questão que pode complicar nossas vidas na hora da prova, pois é comum a banca usar palavras não muito comuns, o que fará com que fiquemos em dúvida entre duas ou três palavras.

Procurei fugir um pouco do tradicional (cobrança da derivação parassintética), colocando um caso de hibridismo, que é a junção de morfemas de origens diferentes (nesse caso latina e grega) na mesma palavra. Em todos os outros casos, há derivação sufixal.

a) felizmente (sufixo -mente)

b) sociologia V

c) obediência (sufixo –ência)

d) concurseiro (sufixo –eiro)

e) arcadismo (sufixo –ismo)

3- Supondo que existisse o seguinte artigo na Constituição Federal, analise as alternativas:

Art 251. A partir de 01 de janeiro de 2010, passam a ser vedadas quaisquer imunidades não previstas nesta Constituição.

I- a ideia de que imunidades são previstas infraconstitucionalmente é um subentendido;

Comentário: apesar da ideia da afirmativa I ser um implícito, não se trata de um subentendido, mas sim de um pressuposto, identificável a partir do advérbio de negação.

II- o verbo sublinhado permite a identificação de um pressuposto;

Comentário: afirmativa correta! O verbo “passar” permite a identificação do seguinte pressuposto: Algo (as imunidades) não era vedado.

III- o pronome “nesta” possui função anafórica, visto que faz referência a um termo do artigo;

Comentário: para ter função anafórica, a palavra deveria se referir a um termo expresso anteriormente. Veremos como classificar esse tipo de pronome no próximo artigo.

a) apenas o item I está incorreto;

b) apenas o item II está correto; V

c) os itens I e II estão corretos;

d) todos os itens estão corretos;

e) todos os itens estão incorretos.

4- Houve erro no uso da crase na seguinte alternativa:

a) Não me referi a este, mas sim àquele comentário.

Comentário: regência do verbo – referir a algo

Quando ocorre fusão da preposição com o demonstrativo “aquele(a)” devemos usar o acento indicativo de crase.

b) Às vezes, esquecemos detalhes importantes.

Comentário: devemos usar crase em expressões femininas. Percebam que o significado muda sem a crase.

c) Todos meus amigos preferem o carro à bicicleta.

Comentário: caso especial do verbo preferir. Quando houver artigo antes do primeiro termo, haverá também no segundo. Dessa forma, se o segundo termo for feminino, devemos usar crase.

d) Levaremos esta situação até às últimas consequências.

Comentário: esta foi a pegadinha da questão, pois, sinceramente, não me lembro de ter lido uma frase em que alguém tenha usado crase nesse caso.

Fica um alerta: cuidado com os casos de crase facultativa!

e) O atirador visou à arma do bandido e atirou. V

Comentário: a resposta da questão! Aqui, o verbo “visar” foi usado com o sentido de “mirar”, que pede objeto direto (o que também ocorre com o sentido de “dar visto”). Já o famoso “visar a algo” tem sentido de “objetivar”, “desejar”.

Obs.: alguns gramáticos admitem transitividade direta mesmo neste último caso.

5- Indique a opção correta:

Comentário: regrinha simples de concordância!

tal (tais) – concorda com o termo anterior

qual (quais) – concorda com o termo posterior

a) Os irmãos são tal qual o pai.

b) Meu pai é tal quais meus tios. V

c) Minha mãe é tal qual as irmãs dela.

d) Meus amigos são tais quais meu irmão.

e) Concurseiros são tal quais guerreiros.



6- Marque a opção que melhor reproduz a frase da tirinha no discurso indireto:

Comentário: questão de discurso indireto bem fácil!

1- o verbo “dizer” fica no pretérito perfeito, já que estamos nos referindo a um acontecimento passado.

Atenção: havia dito = tinha dito = dissera ( todos se referem a um evento anterior a um outro evento passado)

2- o advérbio “aqui” deve ser substituído por “lá”, já que não estamos na cena.

3- o verbo “ser” também fica no pretérito perfeito.

4- vamos analisar melhor o pronome “esse” na próxima questão. Basta, por enquanto, sabermos que ele deve ser substituído por “aquele”.

5- o verbo “ficar” também passa para o passado, só que para o pretérito imperfeito, pois estamos tratando de um estado permanente na época.

a) Ele disse que aqui é o Nº 35, que aquele castelo fica lá embaixo.

b) Ele havia dito que lá é o Nº 35, que esse castelo ficava lá embaixo.

c) Ele tinha dito que aqui é o Nº 35, que aquele castelo fica lá embaixo.

d) Ele disse que lá era o Nº 35, que aquele castelo ficava lá embaixo. V

e) Ele dissera que lá era o Nº 35, que aquele castelo fica lá embaixo.

7- Qual a função das palavras “aqui” e “esse” respectivamente na tirinha?

Comentário: vou fazer uma análise simplificada da questão, já que o próximo texto será sobre esse assunto ok?! Então guardem as dúvidas. Vou aproveitar para responder a dúvida do Marcelo, sobre a função do pronome “esse”.

Inicialmente, acredito que todos tenham tido facilidade em identificar a função dêitica do advérbio “aqui”. Lembrando que a função dêitica refere-se a uma localização de algo no tempo ou no espaço em relação ao emissor, ao receptor ou a terceiros. Temos, portanto, dois dêiticos na tirinha: os advérbios “aqui” e “lá”, que estão se referindo aos dois castelos ( o que o Hagar está procurando não podemos ver, tanto que o rapaz usou o advérbio “lá”).

Já o pronome “esse” tem função anafórica. Bem, alguns de vocês podem pensar o seguinte:

“Ora Diego, você escreveu lá na terceira questão que um pronome anafórico se refere a algo anteriormente mencionado, mas eu não vejo o termo anterior na tirinha! Não pode ser anafórico!!!”

Minha explicação é a seguinte: na tirinha, temos uma resposta certo?! (tanto que ela inicia pelo advérbio de negação “não”).

Se há resposta, tem que ter havido uma pergunta. E que pergunta seria essa? Seria mais ou menos assim:

Hagar: Esse castelo é o número 30? (coloquei esse número para que a resposta faça sentido. Lembrem que o carinha disse lá embaixo. Então o Hagar está procurando por um castelo anterior ao de número 35)

Perceberam o termo ao qual o pronome faz referência?

“Sim Diego, agora sim! O pronome refere-se a expressão esse castelo

Não!!! Veja bem caro leitor! Se o pronome se referir a esse castelo, o rapaz estará falando do castelo dele, quando, na verdade, ele se refere ao castelo que o Hagar está procurando.

“Ah, agora sim! Mas Diego, por que então o pronome não é dêitico, já que ele se refere ao outro castelo?”

Boa pergunta! Mas agora é a minha vez de perguntar. Ele situa o castelo no tempo / espaço?

Não, tanto que existe um advérbio logo depois com essa função certo?!

O pronome se refere ao “(castelo) número 30” da pergunta.

Duas observações para fecharmos essa questão:

1- Retornemos à pergunta do Hagar:

Hagar: Esse castelo é o número 30?

Qual a função do pronome “esse”?

“Agora ficou fácil Diego! Na pergunta, ele faz referência espacial, já que o castelo está próximo do receptor. Se estivesse mais perto do Hagar seria “este” né?!”

Perfeito! Esse raciocínio confirma a função anafórica do pronome “esse” na resposta, pois caso ele estivesse situando o outro castelo no espaço, não seria “esse”, mas sim “aquele”, já que o castelo está longe do emissor e do receptor.

2- função dêitica = função díctica

a) díctica e anafórica V

b) dêitica e catafórica

c) anafórica e exofórica

d) catafórica e epanafórica

e) anafórica e catafórica

8- Ocorreu erro de concordância na seguinte opção:

Comentário: percebam que 3 opções apresentam o pronome relativo “que”, possibilitando a concordância no singular ou no plural. Já nas letras B e C, onde não há o pronome relativo, a concordância deve ser feita no singular.

Pretendo escrever sobre pronomes relativos em breve, mas, por enquanto, fica a dica: normalmente, em orações adjetivas restritivas, o verbo poderá concordar todos os possíveis referentes do pronome relativo.

a) Um dos alunos que estava em sala durante o intervalo ouviu o boato.

b) Uma das provas de 2008, para fiscal de rendas do RJ, estavam difíceis. V

c) Um dos participantes do Fórum Concurseiros não conseguiu fazer o simulado.

d) Uma das meninas que passaram no primeiro concurso estudava apenas quatro horas diárias.

e) Ele foi um dos que queriam ter mais uma chance.

9- Observe as afirmativas:

I- Fulano gostaria que eu mantivesse o ritmo de estudos para o concurso.

Comentário: o verbo “manter” deve ser conjugado com base no verbo “ter”.

Opção correta!

II- Se beltrano não expuser os motivos da falta, não poderá realizar outra prova.

Comentário: o verbo “expor” deve ser conjugado com base no verbo “pôr”.

Opção correta!

III- Quando cicrano requiser maiores informações sobre o assunto, será tarde demais.

Comentário: ao contrário dos verbos anteriores, temos aqui um falso derivado! O verbo “requerer” não se conjuga com base no verbo “querer”! A forma correta seria “requerer”.

Obs.: esse tipo de questão é praticamente garantido em provas da FCC! Então, quem for prestar a prova para o ICMS-SP, não deixe de gravar os seguintes verbos: requerer e prover. Eles caem em quase todas as provas!

a) I e II estão corretas. V

b) II e III estão corretas.

c) I e III estão corretas.

d) todas estão corretas.

e) todas estão incorretas.

É isso pessoal!

A partir de agora, darei continuidade aos textos teóricos, focando, por enquanto, em temas cobrados pela FGV. O próximo artigo será sobre dêiticos, anáforas etc.

Um abraço!

Diego Garcia (Dimalkav)

dimalkav@yahoo.com.br

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