segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Formação de Palavras

Olá pessoal!
Após termos estudado a estrutura, podemos nos aprofundar um pouco no assunto, partindo agora para os processos de formação de palavras.

Formação de Palavras

1-palavras primitivas x palavras derivadas: embora não sejam processos de formação, são classificações de extrema importância para o correto entendimento da matéria. Não há muita dificuldade aqui, já que os conceitos são intuitivos. As palavras derivadas são formadas a partir das primitivas.
Exemplos:
- fogo (primitiva) / fogueira (derivada)
- feliz (primitiva) / infeliz (derivada)
- contar (primitiva) / recontar (derivada)
Uma dúvida interessante seria a seguinte: o adjetivo “má” é derivada de “mau”? A resposta é não, pois temos nesse caso uma flexão. Para haver derivação, é necessária a adição de um afixo.

2- composição x derivação: sem dúvida, são os processos mais comuns de formação de palavras. Dessa forma, as questões de concursos costumam cobrá-las com mais frequência.
A diferença básica entre eles é o número de radicais. Na composição, há mais de um, enquanto na derivação existe apenas um. Em termos de concurso, não é necessário buscarmos mais diferenças. Vamos então aos tipos de composição e derivação:

2.1 – composição por justaposição: ocorre quando não há perda de fonemas na fusão de radicais.
Exemplos: sexta-feira, guarda-roupa, agricultura, passatempo.

2.2 – composição por aglutinação: ocorre quando um dos radicais sofre perda de fonema(s).
Exemplos: aguardente (água + ardente), planalto (plano + alto)

Percebam que não é difícil diferenciar os dois tipos de composição. Talvez por esse motivo, o assunto figure menos nas questões. A derivação, com um número maior de tipos de formação, é bem mais exigida.
Como a minha intenção não é apenas passar o conteúdo, mas também fazê-los “pensar a gramática”, vou tratar de alguns probleminhas conceituais. É interessante notar que isso vai ocorrer em quase todos os tipos de derivação. Daí a dificuldade do assunto.

2.3 – derivação prefixal: basicamente, é a inserção de um prefixo a um radical, formando uma nova palavra.
Como eu havia antecipado, temos aqui um pequeno problema: existem dois tipos de prefixos, aqueles que não funcionam como palavras independentes e aqueles que funcionam. Alguns exemplos facilitarão o entendimento:
desfazer x contradizer
Ambos os processos são considerados pala gramática como derivação prefixal. Entretanto, no caso de “contradizer”, mais parece que ocorre composição, já que o prefixo “contra” tem existência independente do radical, isto é, nem deveria ser chamado de prefixo.
No caso de “desfazer”, percebe-se claramente a derivação.
Para efeito de concursos, deve-se seguir os ensinamentos tradicionais, ou seja, os prefixos gregos e latinos, mesmo quando de existência independente, formam a derivação prefixal.
Segue abaixo uma lista bem completa de prefixos, com significados, origens e exemplos:

2.4 – derivação sufixal: conhecendo a derivação prefixal, fica fácil deduzir o que seria a sufixal certo?! Vou apenas repetir o conceito mutatis mutandis (sempre quis usar esta expressão!). A derivação sufixal é a inserção de um sufixo a um radical, formando uma nova palavra.
Existem três tipos de sufixos:
- nominais: mulherão, questãozinha, maníaco, concurseiro.
- verbais: velejar, gabaritar, chuviscar.
- adverbial: o único sufixo adverbial é o –mente. Precisa de exemplo?!
Obs.: não encontrei uma lista de sufixos na Internet. Assim que eu consegui-la, postarei aqui.

2.5 – derivação prefixal e sufixal: acontece esse tipo de derivação quando, ao mesmo tempo, inserem-se um prefixo e um sufixo a um radical. A expressão “ao mesmo tempo” é muito importante, pois sua inocorrência faz com que haja dois processos, um após o outro. Além disso, é possível retirar um dos afixos e ainda existir uma palavra.
O exemplo clássico deste processo é a palavra “infelizmente”. Podemos retirar o prefixo (felizmente) ou o sufixo (infeliz) e, ainda assim, haverá a ocorrência de uma palavra.
Alguns gramáticos não concordam com esse tipo de formação de palavras, argumentando que primeiramente ocorre derivação prefixal ou sufixal, para depois haver o outro.
Celso Cunha nem mesmo cita a derivação prefixal e sufixal em sua Nova Gramática do Português Contemporâneo. Já o professor Marcelo Rosenthal, em sua Gramática para Concursos, coloca a expressão “derivação sucessiva” como sinônima de derivação prefixal e sufixal. No meu entendimento, se houver derivação sucessiva, realmente uma ocorrerá antes da outra, não havendo necessidade desta classificação.
O problema é justamente saber qual acontece primeiro!

2.6 – derivação parassintética: esta é praticamente igual à derivação prefixal e sufixal. Entretanto, na parassintética, caso um dos afixos seja retirado, o radical e afixo restantes não formam uma palavra.
Novamente, temos dois exemplos clássicos.
O primeiro é o caso de adjetivos terminados em –ado. Porém, não é tão simples assim, pois temos um novo problema: como saber se a palavra é adjetivo ou particípio? A pergunta é pertinente, mas antes da explicação, vejamos dois exemplos:
- desalmado (apenas adjetivo, pois não existe o verbo desalmar)
- desdentado (admite duas interpretações – adjetivo ou particípio)
No adjetivo “desalmado” podemos facilmente identificar a impossibilidade das palavras “desalma” e “almado”. Todavia, “desdentado” é um caso mais complexo, onde é possível admitir a existência do verbo “desdentar”. Nesse caso, teríamos: desdentar > desdentado. Não haveria derivação parassintética.
O mesmo fenômeno ocorreria com “desempregado” e “desabrigado”, porém, temos a ocorrência de “empregado” e “abrigado”, facilitando a análise, ou seja, temos empregar > empregado > desempregado e abrigar > abrigado > desabrigado.
O segundo é o caso de verbos no infinitivo, é aceita a classificação como derivação parassintética, principalmente quando o verbo é formado a partir de um substantivo. Exemplos: entardecer, enfileirar, enterrar.
Neste último caso, a aceitação é pacífica entre os gramáticos. Talvez por isso, é muito cobrada em prova.

2.7 – derivação regressiva: ocorre quando temos a formação de um nome a partir de um verbo. O termo “regressiva” se refere ao fato de a palavra derivada ser menor que a primitiva. Temos, nesse tipo de derivação, a formação dos chamados substantivos deverbais, que equivalem à inserção de uma vogal (o, a ou e) ao radical de um verbo.
Exemplos: chutar > chute  / gritar > grito  /   lutar > luta
Perceberam algo em comum nos exemplos acima?
“Sim, Diego, todos os verbos exprimem uma ideia de ação!”
Exatamente!
Este é o critério adotado majoritariamente para a determinação de um deverbal. A distinção é necessária, pois precisamos saber quando o nome deriva do verbo e vice-versa. Caso o nome não denote ação, teremos, geralmente, derivação sufixal.
Mesmo essa regra possui falhas morfológicas e semânticas. Entretanto, as gramáticas tradicionais tratam o tema desta forma, sendo suficiente para concursos a aplicação da regra.

2.8 – derivação imprópria: ocorre quando uma palavra é usada com classe gramatical diferente da original, sendo, por isso, conhecida como conversão.
Tipos mais comuns de derivação imprópria:
- de substantivo para adjetivo: “Ele é um homem borracha.”
- de adjetivo para substantivo: “Os fortes nunca desistem.”
- de verbo para substantivo: “O cantar era sua única distração.”
- de adjetivo para advérbio: “O menino corria rápido.”
Percebe-se que o processo é típico da linguagem coloquial, sendo, na verdade, um recurso utilizado pelos falantes para a utilização de palavras já existentes de forma diferenciada.

3 – demais processos: temos ainda alguns processos de formação de palavras mais específicos, e portanto, menos comuns em provas.

3.1- hibridismo: ocorre quando uma palavra é formada por radicais de línguas diferentes. Na maioria das vezes decorre da junção entre radicais gregos e latinos, mas línguas como o francês também contribuem para a formação de palavras híbridas.
Considero este processo um dos mais complicados de serem identificados, pois é necessário ter um conhecimento de etimologia (estudo da origem das palavras).
Exemplos: bicicleta, sociologia, neolatino, burocracia.

3.2- abreviação e sigla: coloco dois processos diferentes no mesmo subtópico, pois a diferença entre eles é mínima. Ambos são formas sinônimas de uma palavra maior. A diferença é que na abreviação, retiramos parte de uma palavra; já na sigla, várias palavras são representadas pelas suas iniciais. Exemplos:
- abreviação: moto / pneu / foto / quilo.
- sigla: CESPE, ESAF, FGV.

Obs.: derivação regressiva x abreviação
Uma maneira prática de diferenciar os processos é verificar se as palavras são sinônimas. Se forem, estaremos tratando de abreviação; caso contrário, de derivação regressiva.

3.3- recomposição: finalmente, chegamos ao último processo!
Os dois processos estudados acima serão úteis para a compreensão deste, que é o mais complexo dos processos de formação de palavras.
Basicamente, ocorre o seguinte:
1- um radical grego ou latino é usado no seu sentido original para formar palavras do português;
Exemplo: automóvel (sentido original: próprio)
2- umas dessas palavras sofre redução (abreviação);
Exemplo: auto (abreviação de “automóvel”)
3- a abreviação acaba sendo usada como prefixo, mas dessa vez, com o significado moderno.
Exemplo: autoestrada (estrada para automóveis)
Por expressar um significado digamos “evoluído”, também podem ser chamados de pseudoprefixos.

Obs.: Na última prova do ICMS-RJ, foi pedida a análise da palavra “autodestruição”. A partir do que foi acima exposto, percebemos que não se trata de recomposição, já que o prefixo “auto” está sendo usado com seu sentido original.

Observação Final: algo que causou bastante dificuldade nessa mesma questão da última prova do ICMS-RJ foi a escolha, pela banca, de palavras que sofreram sucessivos processos de formação, de forma a praticamente impossibilitar a correta classificação.
As palavras foram “renováveis” e “dilapidação”, que sofreram derivação parassintética na formação dos verbos “renovar” e “dilapidar”, e posteriormente, sofreram derivação sufixal. Nesses casos, devemos considerar apenas o último processo: derivação sufixal.

Bom pessoal, como tentei escrever o texto da forma mais completa possível, é possível que algumas partes tenham ficado um pouco complexas. Mas, de um tempo pra cá, passei a receber visitas de estudantes de Letras no blog. Por isso, acabei acrescentando divergências que possam ser pedidas em provas no nível da graduação.
Poderia ter incluído outros processos como o neologismo e a onomatopéia, mas acredito que sejam assuntos que transcendem o assunto de formação de palavras, sendo necessário o estudo de outros ramos da língua portuguesa.

Um abraço!
Diego Garcia (Dimalkav)
dimalkav@yahoo.com.br





4 comentários:

  1. Diego, aproveitando o tópico ( =P ), uma ajudinha com uma questão do simulado da cia, por favor:

    A opção em que os sufixos guardam entre si o mesmo tipo de relação semântica que o observado entre os sufixos de "tratamento" e "comparação" é:
    a) divisão / sanguíneos
    b) aplicação / celular
    c) cientista e pesquisadores
    d) procedimento / diretamente
    e) propriamente / complicações

    gabarito letra c, por quê?

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  2. Manu, questão interessante, e de certa forma fácil. Achei a redação do enunciado um pouco confusa. Talvez isso tenha te confundido. Vamos lá!

    tratamento / sufixo: -mento / significado do sufixo: resultado da ação de tratar
    comparação / sufixo: -ção / significado do sufixo: resultado da ação de comparar

    Você teria que achar uma opção em que ocorresse uma correspondência semântica semelhante à do enunciado.

    Gabarito: opção C

    Os sufixos -ista e -dor indicam profissão, ofício.
    Cientista é aquele que trabalha com ciência, assim como pesquisador é quem faz pesquisa.

    As demais opções misturam sufixos nominais, adjetivos e/ou adverbiais no mesmo par, de forma que não há relação semântica entre eles.

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  3. Ah! Eu achei que o "relação semântica entre eles" fosse entre o enunciado e as alternativas, não NAS alternativas ente si. ¬¬'
    Obrigada!

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  4. Olá Diego eu tenho acompanhado seu blog apenas recentemente mas tenho gostado bastante dos artigos que tenho lido. vc poderia me ajudar a classificar essas palavras segundo a derivação:(são bobas mas houve discussão se houve sucessivos processos de formação)

    DESCOLONIZAÇÃO - eu considero derivação prefixal e sufixal

    SUPERENDIVIDAMENTO - tb considero prefixal e sufixal

    obrigada

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